Você já sentiu que alguns dos seus comportamentos já te sabotaram no ambiente de trabalho?
Seja quando teve vergonha de contar uma ideia genial, ou assumiu várias tarefas que tinha certeza de que não daria conta, ou até mesmo colocou na cabeça que tudo o que você faz não dá certo e por isso é melhor não fazer.
Esses foram apenas alguns exemplos de comportamentos sabotadores que acontecem no cotidiano.
A autossabotagem pode ser interpretada de diversas maneiras, mas das definições existentes, existe um consenso de que são pensamentos e atitudes, muitas vezes involuntários, que distorcem sua realidade e, consequentemente, atrapalham seu dia a dia.
Para saber mais sobre o assunto, continue lendo!
Neste artigo, vamos falar sobre autossabotagem a partir da definição de Shirzad Chamine em seu livro “Inteligência Positiva”, de 2012.
Formado em Psicologia e com doutorado em Neurociência, Shirzad percebeu que, a partir das suas vivências e crenças que surgiram desde a sua infância, a mente tende a impulsionar padrões automáticos que, sem você perceber, podem atrapalhar a sua performance no trabalho e na vida. Esses padrões foram, então, chamados de “sabotadores”.
A sua infância não precisa necessariamente ter sido difícil para desenvolver cada sabotador. Na verdade, existe uma relação direta em como aconteceram – e ainda acontecem – suas interações sociais e interpretações dos fatos para que haja esse desenvolvimento.
Por exemplo, você pode ter tido uma vida com os mais variados privilégios e muito amor da sua família, mas isso pode ter potencializado o sabotador Esquivo pela vontade de manter o padrão de vida sem conflitos. Tudo vai depender de como foi o seu contexto e o mais importante: você não precisa sentir culpa por isso.
Cada sabotador tem sua própria voz e é um fenômeno universal, ou seja, todas as pessoas têm, independentemente da idade, status social, riqueza, etc. E está tudo bem ter seus sabotadores, a grande diferença aqui é a força de cada um e o quanto eles estão te prejudicando no percurso da sua carreira.
Por esse motivo, é muito importante identificar seus comportamentos para que consiga trabalhar no seu desenvolvimento com muito mais clareza.
Agora que você sabe o que são os sabotadores, vamos mostrar algumas características comuns de cada um para que você consiga identificá-los e veja as boas práticas para enfraquecê-los.
Também é possível fazer um teste para identificar quais sabotadores se destacam mais no seu comportamento, mas neste conteúdo, já será possível tirar boas reflexões sobre como você se comporta no trabalho.
O Crítico é o principal sabotador. Pode-se dizer que ele rege os demais sabotadores e se divide em três vertentes: como você critica os outros, como critica os eventos que acontecem na sua vida e, não menos importante, como você exerce sua autocrítica.
Uma pessoa muito crítica tende a ter comportamentos perfeccionistas e sentir ansiedade, frustração e culpa quando não chega ao resultado “ideal”.
No ambiente profissional, pessoas que têm o Crítico forte podem se comportar das mais variadas formas, isso exatamente por ser o sabotador mais comum.
Você provavelmente já deve ter trabalhado com uma pessoa muito competente, mas que sempre se sentia insatisfeita com suas entregas, parecia que nada era bom o suficiente e sua autoestima profissional estava abalada.
Talvez também já chegou a ter um cliente que cobrava tanto, mas tanto do time, que gerava aquela exaustão geral e até sentimentos de raiva só de pensar em fazer trabalhos para essa pessoa.
Ou então você já foi — ou ainda é — aquela pessoa que fica insatisfeita buscando eternamente a “felicidade” nos eventos da sua vida. Seja com críticas sobre sua função, emprego, time, equipamentos de trabalho, etc.
É claro que o hábito de questionar pode ser muito saudável e necessário quando não se trata de um comportamento excessivo que busca uma realidade utópica. Quando você perceber que suas críticas beiram o inalcançável, então já é um sinal que esse sabotador está elevado.
Algumas perguntas que podem ser feitas para perceber esse sabotador:
O Controlador se baseia na necessidade constante de ter que assumir o controle de situações e outras pessoas.
Esse perfil costuma se sentir frustrado quando as ações não seguem conforme sua vontade ou não atendem suas expectativas. Além disso, pode conseguir bons resultados a curto prazo, mas com o custo do ressentimento das pessoas ao redor pela alta imposição — geralmente agressiva — e baixa autonomia.
É muito comum no ambiente de trabalho ouvir relatos de pessoas em cargos de liderança que tenham esse sabotador bem fortalecido. Ou colegas que cismam em assumir projetos de outras pessoas pela necessidade de fazer sempre “do seu jeito”.
Diferentemente do Crítico, o Controlador traz o perfeccionismo sob o seu ponto de vista.
Vale também saber que pode ser um sabotador complicado de identificar, pois na sua mente, é capaz de existir a interpretação de que todo esse controle é um favor para a equipe. Por isso, abrir a mente para praticar o autoconhecimento sem julgamento é fundamental nesse processo.
Perguntas que você pode fazer para identificar esse sabotador:
O Esquivo pode até parecer não sabotar, pois é associado ao equilíbrio, mas a questão nesse sabotador se baseia em sua necessidade constante de fugir dos problemas.
Pessoas com o Esquivo elevado costumam forçar a positividade, fugir de atividades complexas e “abaixar a cabeça” cada vez que passam por alguma situação de conflito. No quesito profissional, pessoas com esse perfil tendem a não crescer na carreira por se limitarem a atividades com pouco desafio.
Uma expressão que define bem o dia a dia do Esquivo é a “zona de conforto”. Essa zona de conforto é saudável quando existe crescimento, maturidade e valorização. Agora, quando ela se associa à estagnação, isso pode se tornar um problema.
Outra característica comum desse sabotador é o seu costume em reprimir sentimentos e opiniões para não entrar em conflito. Desde a receber uma bronca injusta no trabalho e apenas aceitar a situação, ou então evitar dar um feedback de desenvolvimento por medo da resposta do outro.
Perguntas para identificar o sabotador Esquivo:
O Insistente, de modo bem claro, é a pessoa perfeccionista e orientada às regras existentes, diferente do Controlador, que pode criar suas próprias regras. Existem várias razões para o desenvolvimento desse perfil, mas é bem comum que pessoas com esse sabotador forte tiveram uma infância com muita cobrança.
Por um lado, o Insistente preza por qualidade e organização extrema. Acredita que o jeito que aprendeu a executar as atividades é óbvio e correto. Com isso, torna-se uma pessoa inflexível com mudanças e apegada às suas tarefas.
No ambiente de trabalho, o Insistente pode ser reconhecido em pessoas que, ao precisarem delegar uma atividade a um subordinado, fiquem presas revisando cada detalhe e não dando autonomia ao time.
Questões para identificar o Insistente:
O Hiper-racional busca a racionalidade acima de qualquer circunstância. Quem tem esse perfil mais forte, pode muito bem ser visto como inteligente e funcional, mas, por outro lado, também gera a sensação de ser uma pessoa fria e arrogante.
Crianças que precisaram amadurecer cedo por quaisquer motivos podem estimular esse sabotador na vida pessoal e profissional. Você já se deparou com algum colega de trabalho que, na hora de ouvir um desabafo, ou quando você quis saber mais sobre seu fim de semana, teve uma resposta vaga, como um “entendi” ou “foi bom”.
Outro exemplo são profissionais que falam de uma maneira tão séria e técnica que não parecem se importar muito se o resto do time está, de fato, entendendo o contexto.
Na percepção desse sabotador, os sentimentos são fáceis e triviais. Brigas não fazem sentido e é invasivo quando outras pessoas falam sobre suas emoções.
Perguntas para perceber o Hiper-racional:
Com certeza você já conheceu pessoas com o sabotador Hiper-realizador forte. Uma palavra bem conhecida para definir esse perfil é o “workaholic”.
O Hiper-realizador até chega a ser visto como inspirador no trabalho por sua dedicação e ambição para alcançar o sucesso. Até certo ponto, isso seria saudável, mas o excesso pode prejudicar sua qualidade de vida e parecer aquela pessoa que “abraça tudo” sem equilíbrio.
Isso porque essa pessoa entende que só é digna de respeito por suas conquistas, sendo assim, pode entrar em diversas situações de autocobrança, afastamento social e, em casos mais extremos, chegar ao burnout.
Algumas perguntas que ajudam a entender o Hiper-realizador em você:
O Hipervigilante também é um sabotador que repete comportamentos excessivos e, por muitas vezes, irracionais. O sentimento principal que guia esse perfil é o medo.
A pessoa com esse sabotador forte possivelmente passou por situações no passado em que perdeu a confiança, seja nas pessoas próximas, na natureza, na sociedade, enfim.
No profissional, costuma ser mais inflexível às mudanças, nos projetos e até mesmo na sua própria função. Lembrando até um pouco o Crítico, a síndrome do impostor pode ter impacto nessa pessoa, mas nesse caso, por falta de acreditar em si mesma.
Questões para identificar o Hipervigilante:
O sabotador Inquieto precisa de estímulos constantes para conseguir se sentir satisfeito com o próprio trabalho. Profissionais com esse perfil fortalecido se distraem facilmente em atividades que considerem entediantes e podem querer mudar de trabalho várias vezes caso suas necessidades não sejam atendidas.
Por buscarem sempre variedade e desafios novos, podem até ter picos de motivação no trabalho, mas isso tende a reduzir conforme uma rotina for estabelecida, como também pode tirar o foco de outras pessoas por sua necessidade de agitação.
Frases para perceber esse sabotador:
O Prestativo talvez seja um dos sabotadores mais queridos sob o ponto de vista das pessoas, isso porque é muito bom ter pessoas disponíveis para ajudar o tempo todo. A questão é: o quanto isso é saudável para quem tem esse sabotador forte?
Quem tem o perfil prestativo forte precisa de validação das outras pessoas, então costuma colocar a necessidade do outro acima das suas próprias vontades.
Algumas vezes, pode achar que é egoísta apenas por expressar seus sentimentos e se coloca numa posição de altruísmo e empatia para defender seu posicionamento.
No trabalho, cabe a você entender se está ultrapassando seus limites pessoais para agradar os outros, bem como identificar se você está desrespeitando os limites de pessoas com esse sabotador forte. Afinal, o que pode acontecer são pessoas criando o costume em se aproveitar do prestativo por sua facilidade de dizer “sim”.
Perguntas para identificar o Prestativo:
Por fim, o último sabotador é a Vítima, um perfil emocional, com variações de humor e necessidade de atenção. Muitas vezes, o profissional com esse sabotador pode ser visto como uma pessoa imatura e sem inteligência emocional.
No trabalho, essa pessoa tende a afastar o time depois de um tempo, isso porque sua constante insatisfação e melancolia pode virar uma relação tóxica de negatividade.
Perguntas que você pode fazer para identificar esse sabotador:
Se você chegou até aqui, saiba que, em contrapartida, nossa mente também possui o Sábio que, para Shirzad, é literalmente o seu próprio eu, quando a sua mente é a sua melhor amiga.
Quanto mais você fortalece a sua sabedoria, menos destacados ficam seus sabotadores e mais maturidade você tem para lidar com sua rotina de trabalho. O papel do Sábio, então, é identificar a ação desses sabotadores e impedir que eles controlem o seu comportamento.
Além disso, você pode utilizar da sua sabedoria para identificar os sabotadores no seu time e, por meio de feedbacks, apresentar oportunidades de melhorias.
Existem várias maneiras de trabalhar comportamentos autossabotadores para melhorar a qualidade de vida. Conheça algumas delas:
Entenda que você é um ser humano e que pensamentos e emoções de todos os tipos vão existir. O importante é saber se realmente vale a pena tomar alguma ação por conta desse pensamento, ou se ele é apenas uma ansiedade que está tentando te proteger de algo.
Vale ressaltar que este conteúdo é focado em questões profissionais e não descartamos a importância do acompanhamento psicológico para entender com profundidade quais gatilhos regem comportamentos que geram a autossabotagem.
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