Todo ato de assédio é uma manifestação de abuso de poder. O assédio sexual em si acontece quando esse abuso de poder ganha um aspecto indesejado de cunho sexual, que perturba, constrange, humilha e/ou intimida uma pessoa.
Esses abusos podem se manifestar através da comunicação, com falas, lembretes, músicas e-mail e mensagens, ou ainda através de atos físicos, como tocar o corpo de forma íntima sem consentimento, abraçar com caráter intimidador, apalpar regiões e se aproveitar de situações de toque.
Conheça a Cartilha do Assédio criada pela SafeSpace.
É muito importante reforçar que situações de assédio sexual não acontecem só com mulheres, e não partem só de homens. Pessoas de qualquer qualquer gênero, em qualquer cargo podem ser vítimas de assédio sexual. Apesar disso, diversas pesquisas mostram que as mulheres são as vítimas mais comuns, o que é um reflexo das relações desiguais de gênero.
Um estudo recente levantou dados de que metade das mulheres já sofreram assédio sexual no ambiente de trabalho. Ao analisar essa informação é possível compreender que o problema do assédio acontece de forma estrutural e para interpretá-lo com eficiência é preciso adotar uma visão estratégica da situação.
Todo espaço de trabalho e as relações que o permeiam têm forte influência no comportamento das pessoas que fazem parte daquele ambiente. Portanto, a cultura da empresa precisa ser amplamente difundida entre os times, bem como o Código de Conduta. Esses são os principais escudos que podem criar uma proteção contra casos de assédio e outras más condutas.
Dentro dessas camadas estruturais, existe uma que precisa de atenção imediata quando o problema é identificado: as pessoas que são vítimas. Uma cultura organizacional ágil valoriza seu capital humano. Mas o que fazer com a vítima quando chega ao conhecimento do RH?
O assédio passou a ser considerado um fenômeno destrutivo para as empresas no início dos anos 90, por reduzir a produtividade e aumentar o absenteísmo. Só após o início dos anos 2000 que passou a existir a consideração de um assédio mais específico, aquele com cunho sexual.
De lá pra cá a forma de lidar com esse problema vem mudando. Se até aqui a maior parte dos casos se encerrava com a demissão da vítima, ainda que "espontânea", hoje perder uma pessoa colaboradora para o assédio sexual caracteriza a extensão desse problema.
Conforme o número de casos que chegam ao público passou a aumentar, as ferramentas, lições e estratégias acompanharam a mesma curva de crescimento. O RH estratégico, responsável pelo papel de intermediar conflitos e por garantir o bem-estar e a produtividade das pessoas colaboradoras, já não é mais apenas um departamento burocrático. É peça fundamental na tomada de decisão das organizações e tem um papel insubstituível quando um caso de assédio sexual vem a tona.
Antes os casos de assédio sexual eram ajustados muito mais pela ótica do contorno do que do confronto do problema. O que se podia fazer para que a história fosse abafada e esquecida, era feito. O resultado esperado era de que não falar sobre um problema o faria deixar de existir. A resposta a essa ação (ou falta de) foi o aumento incontrolável no número de casos expostos ao público e a normalização sistêmica dos acontecimentos. O cenário final? Burnout, alta no turnover, quedas bruscas de produtividade e escândalos globais que corroem a imagem pública das organizações.
Hoje, com tecnologias emergindo para a manutenção da sociedade e do ambiente de trabalho e com a internet dando palco para tantas histórias virem à tona, ignorar o problema é uma estratégia definitivamente falha. E como lidar então com uma pessoa que foi vítima de assédio sexual e chegou ao conhecimento do RH?
A primeira lente que você, profissional de RH, deve colocar para enxergar a vítima é a de empatia. Pense que aquela pessoa que chegou até você vivenciou uma situação que pode tê-la abalado psicologicamente, talvez a um nível que ela nem entenda ainda.
Uma boa forma de demonstrar apoio é praticar a escuta ativa caso a vítima sinta-se segura para falar qualquer coisa sobre o ocorrido.
Um caso de assédio é algo complexo e por isso é normal surgirem dúvidas e inseguranças na hora de lidar com uma situação. Entretanto, cuidado para não aplicar julgamentos inconscientes e desmerecer ou questionar a credibilidade da vítima. Independente da situação, é importante sempre considerar o caso como verdadeiro, até que por algum motivo se prove o contrário.
Especialmente em casos de assédio sexual - muito por conta do estigma social relacionado ao problema - ainda existe uma forte impressão de que falsas alegações são comuns e que muitas pessoas inocentes acabam sofrendo por conta disso. Porém, estatísticas nos mostram que queixas falsas são muito raras. Estudos realizados na Europa e nos EUA indicam taxas entre 2% e 6% de alegações enganosas.
Vale ressaltar que o assédio é um abuso de poder e quem o comete coloca suas vítimas em situações muito sensíveis, normalmente deixando como única saída se entregar ao ato. Existem muitos obstáculos que podem fazer uma pessoa que foi vítima demorar a conseguir denunciar, e vencer essas barreiras não deve ser visto como responsabilidade exclusiva da vítima.
Sofrer assédio sexual tem um peso emocional enorme e prejudica diretamente a autoestima. Além disso, um estudo feito pela JAMA Internal Medicine mostra que vítimas de assédio no trabalho têm mais chances de desenvolver pressão alta e distúrbios do sono. Portanto, buscar uma forma de colocar responsabilidade na vítima, não contribuirá de forma alguma para a resolução do problema e ainda pode piorar o quadro em que ela se encontra.
Nenhum ambiente está livre do fardo de ser palco de uma situação de assédio sexual, mas existem estratégias organizacionais que podem diminuir, e muito, essas possibilidades e as consequências para a vítima.
Assumir que o caso é uma falha estrutural cuja responsabilidade é da organização, além de ser verdade, passará certa segurança para a pessoa que foi violada. E é só a partir desse reconhecimento que uma ação poderá ser definida de forma eficiente por um RH Estratégico.
Após ouvir o relato e confortar a vítima, é papel de um RH Estratégico encontrar saídas para auxiliar aquela pessoa a longo prazo. Para definir a melhor forma, depois da investigação individual do caso, deve-se informar a vítima sobre a sua posição e apresentar os seus direitos perante a lei.
Em seguida, diante das possibilidades, é muito importante fornecer suporte médico e psicológico para assegurar o reparo das consequências causadas.
Atenção: se uma pessoa colaboradora acabou de ser assediada fisicamente é muito importante considerar o encaminhamento imediato para um hospital, a fim de zelar pela saúde e integridade da vítima e envolver advogados na investigação do possível crime.
O setor de Gestão de Recursos Humanos, que agora também recebe o nome de Gestão de Pessoas, está em uma posição chave quando fala-se sobre assédio sexual. Afinal cuida da integração, satisfação, produtividade e continuidade das pessoas colaboradoras no ambiente organizacional junto com a missão de prover qualidade de vida a elas.
É importante para os negócios já que não é segredo que uma equipe bem motivada é uma equipe que produz mais e melhor. Mas, principalmente, é o mais justo e empático para o desenvolvimento pessoal e profissional de todo mundo. Reinventar o ambiente profissional inclui combater o assédio sexual.
Ações eficientes para lidar com o problema incluem desde a contratação de um canal de denúncia ou escuta, como a SafeSpace, para que as pessoas colaboradoras sintam-se segurar em relatar, até a inserção de cursos, workshops e palestras sobre o tema na cultura da empresa.