Um viés é uma forma tendenciosa de pensar, isto é, em peso desproporcional contra ou a favor de um determinado grupo de pessoas, cultura ou ação, que pode ser considerado, muitas vezes, injusto devido ao tratamento desigual. Dito isso, os vieses inconscientes nada mais são do que estereótipos sociais que acabam se formando sem que possamos perceber.
Tanto dentro de um ambiente corporativo quanto na sociedade, de uma maneira geral, a prática desses preconceitos é mais comum do que se imagina.
E essa realidade precisa ser combatida para que possamos construir mudanças significativas nas relações humanas, sejam elas dentro das empresas, sejam nas convivências externas.
Por isso, preparamos este conteúdo para que você entenda o que são vieses inconscientes, quais são os principais tipos praticados, quais consequências eles causam dentro das organizações e como identificá-los a fim de superá-los e criar uma empresa mais diversa.
Como foi dito na introdução, geralmente, vieses inconscientes são preconceitos ou pensamentos tendenciosos a respeito de uma ideia, grupo ou indivíduo, tendo como base os próprios julgamentos e formas de enxergar, devido a experiências passadas que permanecem armazenadas no subconsciente, influenciando as atitudes sem que possamos perceber.
Em outras palavras, vieses inconscientes são generalizações estereotipadas de gerações, etnias, raças, classes sociais, orientações sexuais, gêneros e outras questões comportamentais que não definem o que as pessoas são, de fato.
Eles existem porque o ser humano faz julgamentos automaticamente devido a associações que derivam de memórias armazenadas no mais íntimo de sua mente.
Tais crenças são incorporadas inconscientemente ao longo da vida, isto é, sem que as pessoas se deem conta, e acabam ditando muitos comportamentos do dia a dia, como se fosse algo natural.
De acordo com Daniel Kahneman, um respeitado psicólogo vencedor do Nobel de economia, e um dos principais contribuintes para o entendimento do assunto, o pensamento automático é, em grande parte das situações, essencial para a sobrevivência.
No entanto, em uma sociedade civilizada, o mecanismo baseado em intuição pode desencadear decisões erradas por causa de raciocínios deliberados.
É muito importante compreender que todas as pessoas são "enviesadas" devido à forma como o conceito de autoconsciência e existência são construídos à medida que vivemos nossas vidas. Isso significa que somos todos suscetíveis aos vieses porque somos humanos.
Todavia, podemos atentar para que possamos identificar situações e raciocínios do cotidiano em que os preconceitos tentam comandar nossa postura ou pensamento.
O primeiro passo para combater os vieses inconscientes, tanto aqueles que habitam em nós quanto os que podem passar despercebidos em comportamentos do dia a dia no ambiente de trabalho, é identificar as formas como eles se manifestam no contexto corporativo.
Existem diversos aspectos dentro das organizações que são influenciados pelos vieses inconscientes, como recrutamento e seleção, promoções de liderança, desenvolvimento pessoal, avaliações de desempenho, retenção de talentos e atendimento ao cliente, por isso é tão importante que o RH traga essa discussão à tona na empresa.
Veja a seguir alguns dos tipos de vieses inconscientes mais comuns presentes no contexto organizacional.
A preferência de uma pessoa por indivíduos que sejam mais parecidos com ela, no que se diz respeito a questões ideológicas, atitudes, aparência, religião etc. é um dos tipos de vieses inconscientes mais comuns. Esse padrão faz com que tenhamos uma tendência a julgar melhor quem se parece mais conosco.
No contexto empresarial, é comum que os gestores acabem escolhendo colaboradores com os quais eles têm mais identificação — seja por terem a mesma formação, formato de liderança etc. — para dar promoções, bonificações ou outras manifestações positivas, em vez de analisarem o contexto e as informações e tomarem decisões com embasamento na lógica e na razão.
Trata-se dos julgamentos que uma pessoa, que pertence a um determinado grupo, faz a respeito de um indivíduo pertencente a outro grupo, não se baseando em atributos específicos ou qualidades do mesmo, mas em generalizações.
Infelizmente, é muito comum nos depararmos com situações em que mulheres nem sequer são consideradas para um determinado cargo ou função nas empresas por causa de pensamentos estereotipados em fundamentos retrógrados do senso comum. Por exemplo, quando uma vaga é anunciada e, em sua própria descrição, é especificado "preferencialmente homens". Aqui vemos também um exemplo de viés inconsciente de gênero.
Como consta no próprio termo, esse tipo de viés acontece quando o julgamento de uma pessoa é baseado em aspectos físicos, isto é, em padrões de beleza que foram se acumulando no inconsciente ao longo da vida.
Os vieses de aparência podem acontecer de forma sutil, mas os seus impactos têm o mesmo peso. Pensamentos como "fulano não sabe se vestir bem, por isso é melhor que não faça parte da reunião" podem até não ser expressados verbalmente, mas é comum que a pessoa julgada sofra boicotes e injustiças.
Essa modalidade vai um pouco além do viés de gênero, especificando o julgamento das pessoas em relação às mulheres que se tornam mães. Esse preconceito parte do pressuposto coletivo de que a maternidade impacta na produtividade e capacidade de comprometimento da mulher.
O exemplo clássico desse viés inconsciente no mercado de trabalho é a decisão de não promover mães com filhos pequenos a cargos mais altos. Esse pensamento tendencioso tem como fundamento a crença de que uma mulher não poderá viajar a trabalho, pois não terá com quem deixar a criança, por exemplo.
Por fim, o viés da confirmação é uma das piores formas de corroborar um pensamento preconceituoso, pois ele visa justamente "confirmar" crenças pré-estabelecidas em nosso subconsciente, nos induzindo a criar tendências com base em julgamentos rasos, em vez de considerarmos informações realmente relevantes.
No contexto corporativo, é comum que um candidato que esteve em vários empregos por curtos períodos seja descartado pelos recrutadores porque, automaticamente, acreditam que se trata de uma pessoa que terá pouco comprometimento com a empresa.
Não é preciso fazer parte do departamento de Recursos Humanos para saber que a presença de vieses inconscientes no ambiente corporativo gera uma série de impactos negativos que afetam as relações de trabalho e prejudicam indivíduos.
Veja a seguir quais são os principais efeitos dos vieses inconscientes nas empresas!
Coloque-se no lugar de alguém que sofre preconceito por alguma das condições julgadas como inferiores pelos vieses inconscientes. Você gostaria de trabalhar em uma empresa em que não há como receber o reconhecimento adequado ao realizar o mesmo trabalho e obter os mesmos resultados que os colegas de equipe, ter a carreira atrasada pela falta de oportunidades e sofrer discriminações por conta de estereótipos?
Pois bem, um dos motivos que aumenta o índice de turnover nas organizações é a sensação de insegurança e falta de acolhimento que o colaborador tem em relação à organização. Muitas empresas não são capazes de fazer uma boa retenção de talentos devido à ausência de políticas inclusivas no ambiente de trabalho.
Um ambiente laboral no qual ocorrem discriminações por conta de etnia, raça, ideologia, idade, gênero, orientação sexual ou qualquer outra característica física, ou comportamental tende a ser desagradável para todos os envolvidos, o que contribui com a construção de uma cultura organizacional tóxica.
É muito importante que o RH identifique comportamentos preconceituosos e tome as medidas cabíveis para eliminá-los. Todos os funcionários devem ser tratados com o mesmo nível de respeito e dignidade.
Uma equipe engajada é composta por pessoas que, mesmo diante de diferenças, têm uma harmonia entre si, sabem se comunicar de maneira eficiente e, sempre que possível, se ajudam nas tarefas e responsabilidades operacionais.
Contudo, os vieses inconscientes criam barreiras entre os indivíduos, comprometendo a sua capacidade de trocar e compartilhar experiências, desenvolver empatia e serem mais humanas umas com as outras. Em outras palavras, a falta de engajamento da equipe é uma das consequências mais marcantes da presença desses vieses e, consequentemente, uma das causas da falta de motivação.
Um ambiente de trabalho tóxico, no qual alguns indivíduos sofrem preconceito tanto por parte de colegas quanto pelos próprios gestores, dificilmente gerará colaboradores produtivos. Afinal, profissionais desmotivados não buscam pelos melhores resultados com toda a força e energia que poderiam colocar em suas responsabilidades.
Antes de concluirmos, é muito importante que você saiba como os vieses inconscientes podem ser identificados no ambiente de trabalho para que, então, possam ser combatidos e eliminados da empresa.
Há diversas ações e iniciativas que devem partir do RH, como a criação de equipes práticas ou dinâmicas para propor discussões e reflexões em torno de crenças que precisam ser desconstruídas. É preciso sair da zona de conforto e fugir do pensamento fácil e automático, caso queiramos construir um mercado de trabalho realmente inclusivo e diverso.
A aproximação e a empatia também são grandes ferramentas contra os vieses inconscientes e devem ser utilizadas ao máximo sempre que possível em todos os espectros de nossas vidas.
Como já foi abordado, os vieses inconscientes são formas de pensamento que estão enraizadas na essência e na formação intelectual do ser humano, isto é, não podem ser simplesmente eliminados de um dia para o outro. Trata-se de um processo de construção contínua, no qual a empresa deve se empenhar para evoluir a sua cultura organizacional.
Por isso, o assunto não deve ser evitado. Muito pelo contrário, deve ser discutido sempre que possível. Quanto mais os colaboradores forem expostos a oportunidades de se informarem e se reeducarem sobre o tema, mais produtivo e genuíno será o caminho de conscientização e engajamento.
Uma maneira de quebrar paradigmas é encarar os vieses inconscientes, ou seja, um tipo de postura que deve partir principalmente da liderança, o que não significa que o restante da equipe está isento da responsabilidade de fazer com que todos sejam incluídos.
Os vieses se fortalecem justamente quando não desafiamos as crenças internas. Dito isso, o RH pode promover oportunidades para que todos os membros do time de profissionais dialoguem abertamente e possam se conhecer melhor. Essa é uma ótima maneira de todos vivenciarem novas experiências e terem contato com pontos de vista e pensamentos diferentes.
A empresa precisa ser analisada de forma crítica e demográfica, a fim de que os índices de diversidade sejam estudados e o modo de realizar as contratações e promoções sejam analisados. Estes são exemplos básicos de iniciativas primárias que podem começar a combater os vieses inconscientes.
O RH também deve avaliar, de forma realista, o passado da organização em relação a situações que possam ter sido afetadas pelos vieses inconscientes. Por mais que esse processo possa ser desconfortável, é necessário para que um novo futuro seja escrito de agora em diante.
Finalmente, após toda essa análise minuciosa, é a hora de dar início a um trabalho que pode gerar influência positiva nos comportamentos e nas rotinas da equipe. O RH deve se empenhar em desenvolver um ambiente institucional positivo, assim como a divisão de tarefas deve ser repensada.
Será que há uma tendência de que determinadas atividades sejam delegadas a um grupo? Será que há algum tipo de centralização acontecendo dentro da empresa? Questionamentos como esses podem levantar fatos que, talvez, estejam passando despercebidos até mesmo pela liderança.
Como você pôde contemplar neste artigo, os vieses inconscientes fazem parte da formação intelectual do ser humano. O que significa que, muitas vezes, eles não são construídos de propósito, mas é fundamental que sejam identificados para que os comportamentos relacionados a julgamentos rasos não sejam cometidos, tanto dentro da empresa quanto fora dela.
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