Microgerenciamento não funciona mais. O que fazer, agora?

As estatísticas revelam que 80% dos profissionais que pedem demissão escolhem deixar a empresa onde trabalham em razão da liderança imediata. O levantamento é da consultoria de recrutamento Michael Page. Em muitos casos, o microgerenciamento é o principal motivo por trás dessa decisão.

Segundo a Gartner, empresa especializada em pesquisa e consultoria, a falta de autonomia e flexibilidade, e de apoio da liderança são algumas das justificativas para 41% das pessoas consultadas preferirem retornar ao mercado de trabalho. 

Para elas, conviver com a falta de confiança da pessoa que as lidera e a centralização das atividades é desmotivador.

Atualmente, o que as pessoas buscam em uma liderança é o completo oposto disso. ?Um bom líder é aquele que consegue manter seus comandados sempre motivados e trazendo os resultados necessários”, disse o diretor da Michael Page, Lucas Oggiam, em uma entrevista para o G1.

Esse modelo de gestão em nada combina com microgerenciar. Na sequência, você já vai entender por quê e saber como motivar sua equipe.

O que é microgerenciamento

É mais fácil diferenciar esse conceito de outros modelos de gestão de equipes quando se entende o que significa esse conceito na prática. Então, vamos lá.

Digamos que um líder tenha que apresentar um relatório com indicadores da área de Vendas. Para conseguir cumprir esse prazo, ele pede para uma pessoa da equipe fazer o levantamento das informações até determinada data.

Como líder, ele sabe o que precisa ser feito e também que a pessoa que está com a atividade tem outras tarefas a cumprir. E mesmo tendo organizado as demandas para tudo ser feito, ele abre o documento do relatório para verificar o andamento. Então, começa a enviar mensagens para a pessoa e questionar: 

  • Você só fez isso do relatório?; 
  • O que você está fazendo agora?; 
  • Quando você vai ter essa outra informação?; 
  • Até que horas você vai estar no trabalho hoje?; 
  • A que horas você chega amanhã?; 
  • Será que pode me apresentar uma prévia à tarde?; 
  • Esse dado está certo?; 
  • Onde você buscou esse dado? Deixa eu verificar.

A repetição desse padrão de comportamento, com todas as pessoas da equipe, para todas as atividades executadas, é um exemplo do que acontece quando a gestão com microgerência. 

Trabalhar sob tanto controle gera alguns efeitos na equipe e nas pessoas. Logo vamos falar mais sobre isso. Antes, é importante conhecer as principais características de uma liderança com essas práticas. Assim é mais fácil entender por onde começar a realizar as mudanças de gestão.

Características da liderança microgerenciadora

O interesse ou a necessidade em saber cada detalhe de como cada tarefa é executada, o tempo todo é a característica mais forte de uma liderança microgerenciadora.

Pessoas gestoras com esse perfil tendem também a se colocar à frente da tomada de decisão. Mesmo quando elas próprias repassam para os colaboradores a tarefa de executar um projeto, o resultado só é admitido se executado conforme seus próprios critérios, sem considerar a opinião dos demais.

Para a escritora de Own the Room: Discover Your Signature Voice to Master Your Leadership Presence (livro sem tradução para o português), Muriel Maignan Wilkins, lideranças com propensão a microgerenciar repetidamente tem por hábito:

  • nunca estarem totalmente satisfeitas com nenhuma das entregas da equipe;
  • sentirem-se frequentemente frustradas porque acreditam que teriam realizado as tarefas de maneira bem diferente;
  • estar constantemente concentradas nos detalhes e se orgulham e/ou se irritam ao ter de fazer correções;
  • querer a todo momento saber onde estão todas as pessoas da equipe e no que estão trabalhando;
  • pedir atualizações frequentes sobre cada situação;
  • estarem copiadas em todos os e-mails;
  • centralizar o máximo de atividades possíveis;
  • controlar até o tempo de intervalo e ausências das pessoas da equipe.

Essa minúcia no acompanhamento de cada projeto e do dia a dia de cada colaborador denota falta de confiança e insegurança, características que não compõem bons rituais de liderança e têm efeito nas pessoas.
microgerenciamento

Efeitos do microgerenciamento nas equipes

Esse tipo de gestão pode gerar baixa produtividade, insatisfação e praticamente nenhum engajamento. Isso, por si só, já impacta negativamente nos resultados da empresa. Mas não apenas isso. As pessoas também são afetadas pelas lideranças que microgerenciam. Elas sentem:

Desmotivação

Depois de tentar colaborar com várias ideias que não são sequer consideradas, as pessoas desistem de contribuir e se tornam apenas executoras das sugestões da liderança. Isso limita as possibilidades de desenvolvimento e crescimento.

Indiferença

Em um determinado ponto, as pessoas sentem que não interessa mais para elas o que está sendo feito e nem como. Basta cumprir com as atividades e o horário de trabalho. Não há mais propósito no trabalho que executam.

Infelicidade

As constantes cobranças, questionamentos e correções da liderança provocam ansiedade, insegurança e insatisfação. As pessoas começam a se sentir infelizes em um trabalho que antes amavam realizar. Nesse ponto o ambiente pode se tornar tóxico e pouco produtivo.

Improdutivas

Para responder a tantos questionamentos e apresentar todos os detalhes para a liderança, as pessoas usam a maior parte do tempo executando relatórios e revendo processos, realizando alinhamentos ou esperando aprovações que não executam o que é de fato estratégico. 

Ao fim do dia, elas tendem a sentir que não fizeram nada de realmente produtivo.

Vazio de ideias

O fato de todas as ideias terem de ser aprovadas pela liderança ? ou serem rejeitadas ? mina a criatividade. A ponto de a pessoa não querer mais sugerir nada novo. O entendimento é de que tudo o que precisa fazer é acatar e realizar as ideias dadas pela liderança.

Burnout

Desmotivadas, desinteressadas, ansiosas, inseguras e em um meio totalmente individualista, a pessoa sente uma incapacidade paralisante. Esse sentimento vivido por muito tempo pode culminar em Burnout. 

Segundo a International Stress Management Association, 30 milhões de trabalhadores brasileiros estão com ou tiveram a doença que está exclusivamente relacionada ao ambiente de trabalho.

3 formas de sair do microgerenciamento

Mesmo entendendo as características da liderança microgerenciadora e os efeitos dessa prática nas pessoas, não é das tarefas mais fáceis mudar a mentalidade de gestão. Contudo, vale a pena tentar, por algumas razões.

A primeira delas é o ganho que isso trará para a empresa. De acordo com uma pesquisa da Right Management, colaboradores motivados são 50% mais produtivos.

O segundo motivo é o bem-estar que as pessoas terão em relação ao trabalho. O Center for Positive Organizational Scholarship, da Universidade da Califórnia, apurou que colaboradores felizes são três vezes mais criativos.

Toda empresa quer ser reconhecida como uma boa marca empregadora, praticamente zerar as taxas de turnover e ser  indicada pelos clientes, satisfeitos com o atendimento de seus colaboradores. 

Conseguir esses resultados também é responsabilidade da liderança, que pode sair do microgerenciamento com a adoção de algumas novas práticas.

Conexão com as pessoas

As equipes se sentem bem e motivadas quando percebem que a liderança se mantém próxima para colaborar, mas sem interferir em como as coisas são feitas ou quando. 

Demonstrar maior interesse para que todos possuam as ferramentas necessárias para concluir os projetos no prazo e tenham apoio para solucionar os problemas que possam surgir pelo caminho é a ideia para ter maior conexão com as pessoas. 

O foco é celebrar com a equipe a conquista dos resultados.

Reconhecer

O microgerenciamento da liderança faz com que o olhar esteja constantemente voltado para as imperfeições. Dessa forma, são os erros que são enfatizados praticamente o tempo todo. 

Uma maneira de mudar isso é reconhecer o esforço que as pessoas colocam para realizar suas atividades. Reforçar o que elas fizeram de melhor, indicar pontos de melhoria para evoluir e valorizar comportamentos e atitudes.

Transparência

Um ponto muito importante é a comunicação. Ter conversas frequentes com as pessoas para reforçar objetivos, estimular a criatividade, compartilhar experiências e fazer alinhamentos é uma forma de conduzir a equipe para a formação de um ambiente seguro para se trabalhar. 

Medir se as ações estão sendo efetivas é uma excelente maneira de saber se as mudanças implementadas estão surtindo o efeito esperado na equipe. A Pulses colabora para ter essa visão em tempo real.

Confira esse nosso outro artigo para saber mais sobre engajamento de equipes. Aproveite para se aperfeiçoar ainda mais!

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