Empatia: Definição, Aprendizado e os Benefícios (Parte 3)
Raylla é psicóloga e atuou na área de pessoas por 10 anos até encontrar a CNV e tornar-se consultora e disseminadora dessa metodologia por diversas organizações e instituições educacionais, como FIA e Esalq. Siga Raylla no Linkedin.
4 minutos de leitura
Neste 3º artigo relacionado ao Programa de Comunicação Não Violenta: construindo uma cultura de feedback referência, que temos desenvolvido com a liderança da Gupy, trataremos do tema da empatia ou, também chamada na CNV, de escuta profunda.
E para começarmos pode ser bom você fazer uma pausa de 1 minuto e, quem sabe até fechar seus olhos para se perguntar: “como estou agora? Como estou me sentindo? Do que estou precisando agora?”. Com essa pequena pausa é possível que você tenha mais presença e inteireza para ler e absorver os conteúdos deste artigo.
Então começo te perguntando:
- O que você acha que é empatia?
- E o que não é empatia?
- Você acha que muita gente ao seu redor consegue ser empático?
- Você se acha uma pessoa empática ou ainda não e tem vontade de vir a ser mais empática?
A resposta clássica que escuto de muita gente é que empatia é se colocar no lugar do outro e que, por estarmos numa cultura que reforça o individualismo e egoísmo, não há muitas pessoas assim ao nosso redor, mas muitas pessoas querem ser mais empáticas e não sabem como.
A boa notícia é que podemos desenvolver essa habilidade e a CNV nos oferece um caminho bem didático e compreensível para seguirmos nesse caminho e aprimorarmos nossa capacidade de, genuinamente, irmos até o mundo do outro e compreendermos sua perspectiva com respeito, ainda que seja bem diferente da nossa.
Mas se muita gente me diz que quer ser empática, sabe a definição desta palavra que está tão na moda e, ao mesmo tempo, não encontra muita gente empática ao seu redor, então precisamos nos perguntar o que acontece que, apesar de desejada/valorizada, essa habilidade não é tão comum ainda. Ou seja, quais são alguns obstáculos à empatia ou escuta profunda? E acho essa imagem bem bacana para despertar algumas reflexões.
Quando o lobo desabafa, os outros cinco animais, exceto a girafa, acham que já entenderam a questão e, movidos pela intenção de resolver o quanto antes, começam a trazer possíveis soluções ou explicações para a situação ou mesmo mudam o foco da atenção para si e começam a contar suas próprias histórias.
Não há nenhuma crítica a esses recursos e, às vezes, são muito eficientes e adequados a uma situação, por exemplo, quando buscamos um nutricionista para nos dar conselhos sobre como nos alimentar de forma saudável. A questão é que em outras várias situações o que nós realmente precisamos é de sermos ouvidos e de alguém que nos faça companhia enquanto vamos ganhando clareza sobre alguma questão de nossa vida, num clima de respeito e não julgamento. É assim para você também?
Um bom jeito de irmos aprofundando a qualidade da nossa escuta é nos propormos a parafrasear ou espelhar, ou seja, a escutar o que é dito, checando com o outro de tempos em tempos se é isso mesmo, para evitar distorções ou mesmo colocarmos coisas nossas no mundo do outro. Essa escuta é comumente chamada de escuta ativa, pois, além de silenciar as minhas próprias questões naquele determinado diálogo, eu vou devolvendo ao outro o que estou compreendendo para ele ter a chance de confirmar se o estou compreendendo bem ou se há algum mal-entendido. Que tal você experimentar e ver os resultados na sua própria vida?
Dica de escuta ativa
Na próxima vez que você estiver escutando algo mais complexo ou que envolva várias etapas, você pode sintetizar para seu interlocutor o que ouviu dele para checar se compreendeu corretamente ou ainda pedir para alguém espelhar para você o que te ouviu dizer!
Outro jeito é praticarmos a escuta empática proposta pela CNV, que pode ser definida como:
- Compreender para além do que é dito, com atenção aos sentimentos e necessidades do outro. (Vale lembrar que as necessidades citadas aqui foram melhor explicadas no artigo 2 e se referem àquelas qualidade vitais para todo ser humano, como amor, valorização, consideração, pertencimento, equilíbrio, liberdade, descanso, segurança etc.)
- Compreender respeitosamente, antes de resolver.
- Compreender na camada das necessidades humanas universais, mesmo quando eu discordar na camada das estratégias ou dos comportamentos adotados para atender alguma necessidade.
E pode tomar a forma de chutes empáticos, como:
- Você está (sentimento) porque quer/queria mais (necessidade)?
- Você ficou (sentimento) porque valoriza tanto (necessidade) e sentiu falta disso nessa situação?
- Me parece que para você é bem importante (necessidade) e você ficou (sentimento) naquele dia porque não teve tanto disso, é isso?
Dica de escuta empática ou profunda
Quando você quiser compreender melhor seu interlocutor, por exemplo, quando é uma situação que se repete, ou ajudá-lo a ter mais clareza do que se passa com ele, você pode tentar fazer os chutes empáticos acima, lembrando que, mais importante do que a estrutura da sua fala, é sua postura e intenção de realmente querer compreender o outro, e mesmo aquilo que ele nem disse, mas está sentindo ou precisando.
Caso você escolha praticar e se desenvolver nessa arte de empatizar com o outro é bem provável que você perceberá, com o tempo, pois a teoria é simples, mas a prática é bem mais complexa, que tal postura empática trás diversos benefícios, como:
- Ajuda a ganhar clareza, traz mais lucidez para ações tomadas no presente e, assim, economiza tempo no futuro
- É uma escuta mais relaxada e com foco em compreender antes de resolver.
- Diminui reatividade emocional e favorece a nomeação dos sentimentos envolvidos.
- Favorece a compreensão mútua / quem é ouvido tem mais disposição para ouvir.
- Vai além da simpatia e é possível quando há divergência, facilitando a real inclusão e diversidade.
- Fortalece as relações por passar a mensagem “eu me importo com você”.
- Permite compreender no nível das necessidades e discordar no nível das estratégias, abrindo caminho para diálogos mais construtivos e soluções ganha-ganha.
Então te desejo boas práticas e te deixo a pergunta clássica que você pode se fazer ou fazer ao outro para começar uma escuta genuína: “como você está (agora/ com essa decisão/ com esse cliente/ com este time/ com seu líder / na sua vida pessoal)?”
E logo mais teremos o 4º artigo, em que você conhecerá um pouco como a CNV tem entrado no dia a dia da equipe da Gupy.
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