“A maioria das empresas observa o que as outras empresas estão fazendo e depois segue pelo mesmo caminho. Mas se todo mundo faz as coisas da mesma forma, talvez devamos fazer diferente.” A frase é de Bong-Jin Kim, CEO da desenvolvedora de aplicativos móveis sul coreana Woowa Brothers, cujo valor estimado em 2,6 bilhões de dólares a colocou no seleto clube de elite internacional dos unicórnios de tecnologia. Sua empresa redesenhou e reduziu a jornada de trabalho dos seus colaboradores para 35 horas semanais, num dos países que possuem as maiores taxas de horas trabalhadas por ano.
A provocação e a atitude de Bong-Jim Kim servem como um bom recado para líderes no mundo corporativo – especialmente para a área de recursos humanos: parem de seguir modismos. Desde que comecei a estudar o mundo do trabalho e acompanhar de perto a área de gestão de pessoas, essa tem sido uma das principais críticas aos profissionais de recursos humanos. Acompanhar tendências, estudar, conhecer as melhores práticas e fazer benchmark é bom, faz bem, inspira e aumenta o repertório. Copiar e colar, porém, sem uma análise mais profunda, sem fazer a conexão com sua estratégia e cultura e, muitas vezes, sem necessidade alguma enfraquece sua gestão e sua liderança.
Por esse motivo, não gosto de listas de competências para a liderança e para o RH e tendências do que devemos seguir neste ano ou no “mundo pós-pandemia”. Como afirma o americano Dave Ulrich, professor de Michigan e ainda hoje considerado um guru dos profissionais de recursos humanos, antes de perguntar quais as competências e habilidades necessárias para o líder de RH, pergunte qual a estratégia do negócio. É dessa estratégia que deve derivar as políticas e práticas da sua organização. E é de acordo com suas políticas e práticas que vamos discutir o perfil do líder – seja ele de RH, marketing ou finanças.
É claro que não vamos ignorar alguns comportamentos vitais para qualquer profissional sobreviver no mundo do trabalho atual, como flexibilidade, adaptabilidade, resiliência. Mas precisamos entender que somos mais do que peças que movem engrenagens e, portanto, não devemos nos comportar como a maioria. Afinal, estamos no século XXI, na era da informação e não na era industrial.
Abaixo, eu cito quatro perigos de seguir modismos e imitar os outros para sua carreira e sua empresa:
O primeiro deles é baseado na provocação feita por Bong-Jin Kim. Se você apenas olha o que os outros estão fazendo para se sentir seguro e confortável em dar um passo a frente ou modificar algum aspecto da sua gestão significa que está ousando pouco ou fazendo poucas perguntas para seu negócio.
Já pensou em perguntar, por exemplo, por que mudar o nome da área de recursos humanos ou por que mudar sua avaliação de desempenho? Pode ser que faça sentido mudar e aplicar alguma que já existe no mercado. Pode ser que não faça sentido nenhum mudar. E pode ser que faça sentido mudar, mas para sua empresa terá de ser algo completamente diferente do que viu. E aí sim é hora de inovar e não copiar.
De uma forma geral, é mais fácil achar respostas do que fazer perguntas. Por isso, quando olhamos uma solução diferente – aparentemente inovadora – temos a tendência em acreditar que ela também vai resolver aquele desafio da sua área, do seu time ou da sua empresa. O problema é que as respostas não valem para todas as perguntas. Por isso, é importante questionar, olhar para dentro e fazer muitas perguntas antes de apertar o ctrl c e ctrl v.
O outro perigo de seguir modismos sem uma análise criteriosa é desrespeitar a cultura da sua empresa. Se de acordo com a célebre frase de Peter Drucker “a cultura come a estratégia no café da manhã”, o que será que a cultura é capaz de fazer com políticas e práticas que não têm nada a ver com ela?
Ao introduzir ferramentas, mudar o estilo da gestão, pintar a parede de verde ou derrubar a parede, sem analisar se isso condiz com o comportamento e a história da sua empresa, você está correndo um sério risco de rasgar dinheiro. Sim, já vi muita empresa adotar novas práticas e, passado algum tempo, derruba tudo, rabisca, redesenha, muda e volta ao que era antes. Desperdício de tempo, de dinheiro e de energia.
Esse “perigo” é um alerta para todos os profissionais – não somente líderes, tampouco líderes de RH. Vivemos num tempo em que há muita informação e conteúdo disponível. Todo mundo acredita que pode ter opinião sobre tudo – antigamente isso ficava mais restrito aos elencos dos times de futebol.
Neste contexto, sem uma curadoria adequada do que você está lendo ou assistindo, a chance de repetir conceitos – muitas vezes com as mesmas palavras – é grande. E, aí, você se torna só mais um na multidão.
A beleza de ter tanto conteúdo maravilhoso e poderoso ao alcance da mão só não é maior do que o risco de beber tanta fonte sem fazer uma análise crítica dos fatos. Exercer o pensamento crítico, comparar dados, ouvir fontes seguras e desenvolver sua própria análise sobre os fatos vai colocar você num nível diferenciado em relação aos papagaios de plantão.
Por fim, mas não menos importante, ao seguir as tendências de olhos quase fechados, você está ignorando a parte crucial dos negócios: a estratégia. A famosa frase de Sêneca “nenhum vento é favorável a quem não sabe onde quer ir” resume muito bem essa tentação de se seguir modismos.
Antes de ajustar o barco na direção adequada do vento é preciso saber aonde você pretende chegar. Portanto, antes de investir em novas práticas, ferramentas, aplicativos ou introduzir novos hábitos, olhe para sua estratégia. É ela quem vai orientar qual a direção que você deve seguir.